segunda-feira, 15 de abril de 2013

clara #6


antes.porque antes de viver, preciso ler o trotsky e o moreno (de novo). antes preciso ler o lênin. e, antes disso porém, preciso ler o bourdieu. só depois de ter apresentado o seminário, do velho barbudo, amanhã na aula de sociologia clássica. quase ia me esquecendo, antes disso preciso terminar o jantar. mas só depois de escrever duas, de preferência três páginas e assim levantar uns trocados, para o jantar da semana que vem. 

queria eu depois disso, lhe contar as intermitências cotidianas. a birra no meio da tarde ou o escândalo do meio da noite. lhe dizer que a acumulação primitiva do capital é qualquer coisa aí que eu extraí do nosso velho marx. um sorriso, um abraço, qualquer coisa assim que valha a pena crer nem que seja por alguns fadados instantes, que para além do egocentrismo e do individualismo cotidiano, tecemos à dois, ou melhor à três, o amanhã. 

fumando um cigarro lentamente, clara compreende que precisa se focar no texto e não na utopia. isso tudo sem a ajuda da rita.

sábado, 16 de março de 2013

Agradecimentos



Agradeço em primeiro lugar ao Universo e suas energias por me guiar por caminhos, muitas vezes incertos, mas que me trouxeram onde estou. Às condições materiais e seus caminhos palpáveis, nem sempre palatáveis que até aqui trilhei. Um salve para a minha mãe, que a despeito das inúmeras contradições, foi quem me ensinou a ter empatia e a importância de desejar ao próximo o mesmo bem que desejamos a nós mesmos. Devo a ela as bases iniciais do que reivindico ser a minha opção marxista, humanista. Um abraço querido na minha avó, razão primeira da nossa vinda há quase vinte anos atrás para o Brasil. As implicâncias e brigas sempre foram demonstrações reversas de amor. À memória do meu tio Léo, que sempre acreditou em mim. Ao Tio Walter, Ari e Netinho. À memória da Tia Maria Regina, do Tio Waldir e da Tia Santa. À minha filhota, Maria Flor. Não existem palavras capazes de mensurar a importância, o carinho, o respeito que tenho por ti minha pequena. “olha só ‘loirinha’ do cabelo enroladinho/vê se olha com carinho pro nosso amor/eu sei que é complicado amar tão devagarinho/e eu também tenho tanto medo/eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando/ mas se a gente vai juntinho, vai bem/eu não sei se você sabe, mas eu ando aqui tentando/ e a gente tem um eterno amor de além/”.
À minha irmã querida, Jaqueline Talga. Bem sabes que o que tenho para lhe dizer não cabe em uma página. Não cabem neste parágrafo, tantos anos de amor sincero. Transbordaria pelas linhas nossas lágrimas e muito mais nossas risadas. Encheriam todas as páginas os aprendizados ao teu lado. O movimento estudantil, os projetos de extensão, o movimento sem-terra, as viagens, o mestrado, os amores, as pelejas. As noites incontáveis sem dormir, os litros de café e os maços de cigarro. Se não fosse por você eu nem tinha ido pro Sul, né? Você inclusive me trouxe uma amiga nova. À Sol, mulher forte, guerreira e doce. Decidi que seria sua amiga antes mesmo de lhe conhecer e não estava enganada. Nunca perca esta chama que lhe move. (Somos uma trinca imbatível).
À minha marida. Você sabe que não teria chegado até aqui sem o seu apoio incondicional, sem os seus puxões de orelha e o colo nos momentos de desespero. O embalo da Flor, quando no outro dia cedo eu tinha prova e ela insistia em não dormir. Minha eterna gratidão. À Morgana, pela amizade sincera, de tantos anos. Por entender minhas ausências. Por não atender ao telefone e compreender quando eu também não atendo. Pelas noitadas, pelo colo, pelo rock’n roll. Te amo mulher! À Daiane, linda menina, repleta de luz! Perdoe-me por tantas faltas. Sabes que meu pensamento por ti si eleva. Aquelas que por razões diversas se afastaram, mas que nem por isso fizeram sumir em mim o amor por elas, Jaqueline Olina e Maria Cristina. Gabriel, aprendi contigo que amor é liberdade. Você sabe onde me encontrar... Ao Rafael, que em um período difícil da minha vida me ensinou amor próprio. Doeu. Sobrevivi.
Aos amigos distantes. Paula, sinto imensas saudades, mas o universo gira e quem sabe não iremos morar na mesma cidade outra vez, na beira do mar? Alê, do coração gigante, muito brava, mas na maioria das vezes aflita com o bem estar do próximo. E o Alê também! Companheiro de café e de prosa. Mandita, que chegou onde quis com sua garra e determinação. À Andréia, que sempre me apoiou. À Riciele, que mesmo morando tanto tempo em terras paraguaias, permanece sendo uma das melhores amigas que tenho. Um abraço para o João Evaristo, o Thiago e o Júlio. Ao André, que mesmo longe me fez companhia por várias e várias madrugadas, compartilhando músicas e carinho! Game over, lindo!
À Toca da Coruja. Foram muitos anos, muitos moradores. Compartilhar com vocês durante tanto tempo a minha gestação e os anos iniciais da Maria Flor foi de extrema importância para seguir acreditando em um mundo diferente, justo e igual. Núbia, Luana, Roni, caso não saibam meu amor e gratidão por vocês.
À Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST/PSOL), por nunca me deixar esquecer que somos povo e que é ao lado dele que devemos lutar. Não há meio termos, não há aliança com a burguesia. Patrões e trabalhadores não podem estar do mesmo lado, a não ser que um deles renuncie aos seus interesses de classe. Hinu, Gabi, Ivo, Léo, Drits, Carlos, muito obrigada pelo companheirismo. Lili, minha querida, você sabe que te amo e te respeito. Ainda militaremos lado a lado, em conjunturas mais favoráveis, espero eu, no movimento sindical. Tutu, love you. Aos companheiros de longe, Rubens, Marco Antônio, Junior Silaedson, Pedro Mara, Mari Bô, Adriano, Esther, Rubens, Paula Alves, Yuri Alves e tantos outros.
Às amigas que fiz no decorrer da graduação. É verdade que não foram lá muitos. Acho que sempre fui muito sectária ou estranha. Fica aqui a auto-crítica. Lucília, minha querida amiga que sempre estudou comigo e me socorreu antes das provas, dos trabalhos e de tudo mais. Muito obrigada! À Cássia, que me entupia de chocolates quando grávida e que mimava a Flor. Ganhei uma amiga! À Carol Cadima, muita luz em sua nova caminhada. Thais, tenha juízo! Meu muito obrigado a todos do Pibid. Estar ao lado de vocês foi excepcional e me trouxe muito aprendizado.
Aos companheiros da gestão 2007 do DCE- UFU, bem como das mulheres mais que especiais da gestão 2008, que mesmo com toda peleja, levaram até o fim aquilo a que tínhamos nos proposto. Ao Coletivo Viramundo. Aos militantes de esquerda da UFU (sim a esquerda ainda resiste) que mesmo em outras tendências ou organizações se encontram na luta. Salve Marcolino, Bruna, Flávia, Mário, Ricardo, Vilmar, Antônio, Raíssa e tantos outros que não cabem aqui. Há que se construir a unidade. Sozinhos nada somos!!
Àqueles que extraíram minha mais valia e que enfim, pagaram um salário com o qual sobrevivia. Foram as contradições da luta de classes que forjaram muito do que hoje sou. Não sei se viverei para ver o fim de cada um de vocês, mas sei que, quando nos unirmos, vocês não resistirão.
Se existem protocolos nos agradecimentos, peço desculpas. Gracias à Arnaldo Antunes, AC DC, Caetano, Calle 13, Gil, Mallu, Marisa, Ozzy, Deep Purple, Metallica, Bethânia, Chico, Criolo, Emicida, Racionais, Milton, Eddie, Paulinho, Coldplay, Lenine, Otto, Pedro Luís e tantos outros. Queria ser amiga de todos. Uma pena.
Aos professores e técnicos administrativos do Instituto de Ciências Sociais. Aprendi com todos, quer seja por intermédio da admiração ou da indignação. Um carinho especial à Marili, que me ajudou em diferentes momentos. Todo o meu carinho, admiração e agradecimento à Patrícia Trópia, minha orientadora. Graças a minha procrastinação eterna, ela partiu para o pós – doutorado antes que este trabalho tivesse um fim.
Meus agradecimentos sinceros ao meu pai teórico, Edílson. Sim, sim, a culpa é sua. Assumo a minha parte, mas a culpa maior é sua. Muito obrigada, por sempre ter acreditado em mim, por me apoiar, por me implicar e por assumir esta orientanda maluca, com prazos insanos. Por me orientar por telefone às vésperas da minha entrevista da UFRGS, enfim, por tudo.
À Maria do Socorro, que além de ter sido uma professora especial, sempre se preocupando com o bem estar de toda a turma, aceitou o convite para compor a minha banca. À Ana Maria Said, mulher linda, inteligente e guerreira, que por intermédio do seu grupo de estudos, contribuiu imensamente para a minha formação. Obrigada por compartilhar comigo este momento.

A quem eu possa ter esquecido e que aqui mereça estar, perdoem a minha memória falha. Excesso de café.
À classe trabalhadora à qual pertenço. Este trabalho é nosso. Vamos à luta!!!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

clara #5


clara continuava a travar sua interminável batalha com a vida. não digo essa batalha cotidiana de casa, comida, escola, roupa lavada, quarto ordenado. me refiro a batalha abstrata e filosófica, feita durante o café, da manhã ou da noite. clara sempre fora desajustada e intensa. amava demais, odiava demais, acreditava demais, bebia. agora clara queria reparar os anos de exacerbação com um comedimento artificial. falava baixo, reprimia opiniões, tinha medo de morrer. tudo falso. por isso evitava beber. clara então de relance se olhou no espelho e com espanto viu que voltava a ser, aos poucos, na míngua de cada dia, a assustada criança que tinha medo do diabo e pedia que deus não desse fim do mundo.pra piorar tudo, clara deixara de crer em deus. refém de si mesma, clara torceu para que o mundo não acabasse. clara ainda queria viver. outra vez e de novo. ela ainda crê que uma hora acerta o caminho. 


terça-feira, 4 de setembro de 2012

clara #4



e naquela tarde após planos frustrados, clara enfim desencantou.
                                                          clara enfim desencantou.

aquele aguardado momento havia chegado. clara sofria já há tempos de uma abstinência de palavras. foi em vão que as batalhas se travaram. as ideias simplesmente não fluíam. aquele fluxo narrativo, velho companheiro de clara, teimava em não sussurrar as desejadas palavras.

vale ressaltar que quando feitas por encomenda, frutos de horas e horas com suas nádegas macias – clara preferia descrevê-las como sendo macias, em detrimento da flacidez exuberante – afundadas na cadeira dura, as palavras por fim transbordavam. clara, em sua arrogância não declarada, se achava tão mestre quanto outros mestres por aí. clara contudo era humilde e agradecia a estes que em um passado recente pagavam suas contas.

a noite clara custou dormir. em silêncio, clara entendeu que o desencanto havia chegado no momento certo. das outras vezes ela não estava verdadeiramente pronta. apesar dos cabelos em permanente desalinho – culpa destes ventos, quentes, secos – e dos pés no chinelo, clara sabia que lá dentro algo tinha mudado. os pés agora livres em um chinelo, eram os pés que se apertavam em sapatos quentes e suados, em horas intermináveis de trabalho. clara conseguiu inclusive admitir o retorno de um vestido curto e fresco, naquelas tardes quentes. a pressão exercida pelos olhares famintos na rua a impediam.  sua fobia social, seu asco ao ultrajante simplesmente não permitia. sim, sim, clara continuava a fugir de todas as pessoas que lhe exasperavam. clara passava, dias e dias assim, sem querer ver ninguém. absorta em planos e ideias e narrativas peculiares de sua solidão.

vale ressaltar que a despeito de todo seu desprezo pelo convívio social, clara tinha boas companhias. outras cabeças - repletas de - vento, outras almas movidas a fogo. clara tinha boas companhias.


agora, clara estava tranquila. a narrativa insana na qual ela estava constantemente mergulhada soprava em seus olhos o desenho das letras que outrora embaralhadas, agora tinham o tom do céu do mar. clara ama o mar. clara ama o céu. clara ama olhar o céu e o mar juntos. clara ainda acredita que céu e mar – seus maiores amores, seu mais profundo temor – se encontram no ponto exato onde já não mais seus olhos mortais distinguem, ar e água.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

clara #3

Júlia sempre discorria acerca da dificuldade em escolher. Escolher é perder, não cansava de reafirmar a titubeante Júlia. Clara, por sua vez, diante do restrito cardápio do cotidiano, a isto não dava alarde. Determinista, racional.

cabeça insana perdida em devaneios. determinada a apregoar ilusões. consciente de sua latente contradição. contraditória.

Clara agora tinha a sua frente diversos pratos a serem degustados. E enfim ela se lembrou da titubeante Júlia. Vale destacar, que Júlia a menina da cabeça de água, sempre flutuante, frente águas mais quentes foi habitar em outro continente. Nada que um ônibus saculejante não resolva. Nada que uma titubeante e insegura Clara possa fazer. A menina da cabeça d’água ainda não percebeu a imensa falta que ela faz a Clara. Será então que Júlia ainda lembra desta esvoaçante Clara?

A felicidade adiada. A felicidade na praia. A felicidade na graduação. No mestrado. No emprego. Na promoção. Na geladeira. Na máquina de lavar a roupa. No namorado. No namorado escolhido, perfeito, programado. Na conta paga, a cama feita, a roupa lavada, a mesa posta. O filho rindo, de banho tomado, de barriga cheia. Na beleza. Na magreza. O cabelo arrumado, a roupa da moda, a perna depilada. A cara limpa, o banho quente, o conforto. A mediocridade. O padrão. O pequeno burguês. O necessário?

O confronto das emoções. Uma descarga incontrolável das emoções. O irracional. O sonho, a narrativa. O romance. O eu, a música e o tabaco. Entre a cafeína e o álcool pouca diferença há - nesta medíocre opinião. Ambos são ópios palatáveis. A clareza de que facilmente este devaneio ébrio seria facilmente substituído por uma boa foda, por que afinal, ser fudida as vezes é muito bom. A devassa. 

Clara então se confunde. Afinal, Júlia sempre teve razão: escolher é perder. Clara não se sabe, não se conhece, não se decide entre ser ou estar, entre ir e ficar. Clara só se sabe só. Só e flamenguista. Num ano que o mengão, botou pra fuder. No mau termo da palavra, que fique claro.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

estômago - segundo capítulo

enfim o vinho. as lágrimas saltam grossas, robustas pela face. madrugada. frio no pé. o exercício do expurgo ( tão fugidio, tão necessário,tão subjetivo).

                           chico, criolo, café, caetano, colo, cafuné, cigarro. outro engano.

diálogos solitários intermináveis, remoendo cicatrizes infinitas. talvez incuráveis.

ilusões imbecis solitariamente tecidas. madrugadas (outrora repletas de telefonemas indecifráveis).

[textos extremamente subjetivos tecidos de maneira egoísta em dias de verão (hoje, porém, outono) sem culpa ou remorso]

o pior é ser incapaz de escrever, de externar meus sentimentos [típica frase de velório. “fui até a casa de godofredo externar meus sentimentos à família pelo seu falecimento”. (sim, eu sei que não se usa mais crase na nova ortografia brasileira. fodam-se as regras, acredito ter licença poética para ser ultrapassada).

tudo parece distante, longínquo. queria gritar, nua no portão da sua casa, o tamanho da minha consternação. indignada (não, em nada minha indignação se compara aos lutadores - mundo adentro, mundo afora – que ousam contra o capitalismo), ainda presa a um sonho fantasma que eu mesma criei. queria lhe dizer que nada entendi. esta cena porém, reservo à atriz principal, digna de seu papel medíocre.

sim querido, eu sou mesquinha. sempre lhe disse que era má. você também o é. 

                                                                          [lhe faltam amor próprio e orgulho]

saltitam em mim, doces doses de cabernet sauvignon. juntas, saltitam doses nada doces de rancor, mágoa e inferioridade (já disse nesse mesmo parágrafo que sou mesquinha. talvez eu também seja medíocre. talvez por isso preferistes outrora a mesquinha já costumeira).

[repetidamente me envergonho, de sentimentos tão estapafúrdios]

p.s.: e clara enfim se revela. podre, bêbada, fumando como a puta que acusam tabagista (não serei eu afinal, a puta?) 

clara jamais entenderá o que se sucedeu entre ela própria e Pigmeu (alusão indevida à altura de seu romeu). ela, porém não deseja ofender a nenhuma Ninfeta (alusão devida à oficial julieta). este texto malfadado é apenas mais um vômito.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

cenas incongruentes de uma quarta feira de cinzas

de novo aquela dor no estômago. dor maldita, ânsia de vômito, desespero.
semana passada eram borboletas a saltitar pelo meu corpo, a fazer minhas pernas dançarem aquele remelexo estranho que tenho ao andar feliz pelas ruas fétidas da rodoviária.
você sabe quanto tempo eu esperei? sim, sim eu sei, você também esperou.

idiota! isso não é um jogo de futebol, onde se precisa jogar, onde se joga na defensiva.
idiota! isso não é um mar de amor, no qual você abre os braços e se joga.

e qual é a síntese então? qual é a certa medida, qual é o peso, qual é por favor, qual é a atitude certa? me perdoe, me perdi nos sentimentos e nesse texto.

                                                           perdi também o rumo pra ti? o que mais eu perdi?