terça-feira, 25 de dezembro de 2012

clara #5


clara continuava a travar sua interminável batalha com a vida. não digo essa batalha cotidiana de casa, comida, escola, roupa lavada, quarto ordenado. me refiro a batalha abstrata e filosófica, feita durante o café, da manhã ou da noite. clara sempre fora desajustada e intensa. amava demais, odiava demais, acreditava demais, bebia. agora clara queria reparar os anos de exacerbação com um comedimento artificial. falava baixo, reprimia opiniões, tinha medo de morrer. tudo falso. por isso evitava beber. clara então de relance se olhou no espelho e com espanto viu que voltava a ser, aos poucos, na míngua de cada dia, a assustada criança que tinha medo do diabo e pedia que deus não desse fim do mundo.pra piorar tudo, clara deixara de crer em deus. refém de si mesma, clara torceu para que o mundo não acabasse. clara ainda queria viver. outra vez e de novo. ela ainda crê que uma hora acerta o caminho. 


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