quinta-feira, 28 de junho de 2012

clara #3

Júlia sempre discorria acerca da dificuldade em escolher. Escolher é perder, não cansava de reafirmar a titubeante Júlia. Clara, por sua vez, diante do restrito cardápio do cotidiano, a isto não dava alarde. Determinista, racional.

cabeça insana perdida em devaneios. determinada a apregoar ilusões. consciente de sua latente contradição. contraditória.

Clara agora tinha a sua frente diversos pratos a serem degustados. E enfim ela se lembrou da titubeante Júlia. Vale destacar, que Júlia a menina da cabeça de água, sempre flutuante, frente águas mais quentes foi habitar em outro continente. Nada que um ônibus saculejante não resolva. Nada que uma titubeante e insegura Clara possa fazer. A menina da cabeça d’água ainda não percebeu a imensa falta que ela faz a Clara. Será então que Júlia ainda lembra desta esvoaçante Clara?

A felicidade adiada. A felicidade na praia. A felicidade na graduação. No mestrado. No emprego. Na promoção. Na geladeira. Na máquina de lavar a roupa. No namorado. No namorado escolhido, perfeito, programado. Na conta paga, a cama feita, a roupa lavada, a mesa posta. O filho rindo, de banho tomado, de barriga cheia. Na beleza. Na magreza. O cabelo arrumado, a roupa da moda, a perna depilada. A cara limpa, o banho quente, o conforto. A mediocridade. O padrão. O pequeno burguês. O necessário?

O confronto das emoções. Uma descarga incontrolável das emoções. O irracional. O sonho, a narrativa. O romance. O eu, a música e o tabaco. Entre a cafeína e o álcool pouca diferença há - nesta medíocre opinião. Ambos são ópios palatáveis. A clareza de que facilmente este devaneio ébrio seria facilmente substituído por uma boa foda, por que afinal, ser fudida as vezes é muito bom. A devassa. 

Clara então se confunde. Afinal, Júlia sempre teve razão: escolher é perder. Clara não se sabe, não se conhece, não se decide entre ser ou estar, entre ir e ficar. Clara só se sabe só. Só e flamenguista. Num ano que o mengão, botou pra fuder. No mau termo da palavra, que fique claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário