Júlia sempre discorria acerca
da dificuldade em escolher. Escolher é perder, não cansava de reafirmar a
titubeante Júlia. Clara, por sua vez, diante do restrito cardápio do cotidiano,
a isto não dava alarde. Determinista, racional.
cabeça
insana perdida em devaneios. determinada a apregoar ilusões. consciente de sua
latente contradição. contraditória.
Clara agora tinha a sua frente
diversos pratos a serem degustados. E enfim ela se lembrou da titubeante Júlia.
Vale destacar, que Júlia a menina da cabeça de água, sempre flutuante, frente águas
mais quentes foi habitar em outro continente. Nada que um ônibus saculejante
não resolva. Nada que uma titubeante e insegura Clara possa fazer. A menina da
cabeça d’água ainda não percebeu a imensa falta que ela faz a Clara. Será então
que Júlia ainda lembra desta esvoaçante Clara?
A
felicidade adiada. A felicidade na praia. A felicidade na graduação. No
mestrado. No emprego. Na promoção. Na geladeira. Na máquina de lavar a roupa.
No namorado. No namorado escolhido, perfeito, programado. Na conta paga, a cama
feita, a roupa lavada, a mesa posta. O filho rindo, de banho tomado, de barriga
cheia. Na beleza. Na magreza. O cabelo arrumado, a roupa da moda, a perna
depilada. A cara limpa, o banho quente, o conforto. A mediocridade. O padrão. O
pequeno burguês. O necessário?
O confronto das emoções. Uma
descarga incontrolável das emoções. O irracional. O sonho, a narrativa. O
romance. O eu, a música e o tabaco. Entre a cafeína e o álcool pouca diferença
há - nesta medíocre opinião. Ambos são ópios palatáveis. A clareza de que
facilmente este devaneio ébrio seria facilmente substituído por uma boa foda,
por que afinal, ser fudida as vezes é muito bom. A devassa.
Clara
então se confunde. Afinal, Júlia sempre teve razão: escolher é perder. Clara
não se sabe, não se conhece, não se decide entre ser ou estar, entre ir e
ficar. Clara só se sabe só. Só e flamenguista. Num ano que o mengão, botou pra
fuder. No mau termo da palavra, que fique claro.